quarta-feira, dezembro 06, 2006

Como está o cinema português ou a quantas andamos no que diz respeito à sétima arte lusitana?

O cinema português está mal e “re-comenta-se”*. “Re-comenta-se” porque é justamente por estar mal que se aponta como exemplo a não seguir (especialmente no estrangeiro onde tudo vai sempre bem e se recomenda). Se o estado da cultura é reflexo do país (e eu acredito piamente nisso) e enquanto a qualidade do que se produz estiver dependente do património que se tem (ou não), que podemos nós esperar senão trabalhos que se classificam de medianamente bons ou razoavelmente maus?
Claro está que me lembrei de falar deste assunto pois foi tema debatido hoje, no jornal “O Metro” e, sendo que a opinião geral já estava apresentada e alguns profissionais já tinham exposto o seu ponto de vista, achei por bem dar a conhecer o meu. Quem não estiver com interesse nisso poderá simplesmente parar de ler o post aqui, o resto é palha e eu juro que não me zango... até ajudo: no canto superior direito está uma cruz, viram?

Para aqueles que ficaram, é mais ou menos este tipo de abandono que a produção cinematográfica portuguesa sente: Há quem leia “Coisa Ruim”, realização Tiago Guedes e Frederico Serra, estreia a 2 de Março de 2006; há também aqueles que lêem “Coisa Ruim”; e finalmente os que lêem “Coisa”, percebem que é português e apressam o passo.
No artigo do jornal “O Metro”, uma das razões mais apontadas para o fracasso da produção nacional é o guião (para clarificar ideias, estamos a falar daquilo que guia o filme). No entanto, eu não creio que o problema esteja nos guiões dos filmes que por muitos são considerados “pobres”, com “falta de estilo” ou então “fraco em ideias” (isto referindo-se ao cinema português no geral). Depois existem aqueles que acham que aproximar os guiões com a vida e o dia-a-dia do público é a solução, ora vejamos:

“O Crime do Padre Amaro” foi o filme português mais visto de sempre… assusta-me que haja muita gente por aí à solta a identificar-se com ele.
O “Alice” fala do tráfico de crianças que é uma realidade actual, público? 375 mil espectadores abaixo da Soraia Chaves e do Jorge Corrula.

“Filme da Treta”, 271 614 espectadores. Identificamo-nos assim tanto com o Zezé e o Toni?
“Esquece tudo o que te disse”, o drama dos divórcios, das traições e das relações incestuosas. Acho que a maior parte DA PARTE que olhou para o cartaz, leu a primeira palavra e esqueceu.

Depois há quem diga que não entende os filmes, que são demasiado complexos ou abstractos, o que só por si podia ser um passo em frente se quem não entende fizesse um esforço por entender (aí rejubilaríamos de alegria: “Ena! Alguém a fazer um esforço cultural!”). Mas o que acontece àqueles que foram por engano ver o “Transe” da Teresa Villaverde e saíram de lá aos papeis? Acham que voltaram para rever o filme ou compraram a edição em DVD? Não só não o fizeram como devem ter “re-comentado” a todos os amigos, assim algo do género: “Não pesquei nada do se passou ali mas olha, há uma parte em que a gaja se despe e o Tim, aquele dos Xutos aparece junto à lareira”.
Então afinal o que é que falta ao cinema português? Mais asneiras? Mais sexo? Mais parvoíce? Mais violência? Querer-se-á mais drama? Mais tragédias? Devíamos também nós ter feito um filmezito ou dois sobre o World Trade Center? Deveria o cinema português passar a chamar-se cinema americano em Portugal? Ou só cinema americano, já que ser português é cada vez mais visto como ser doente crónico?

Na minha opinião, a raiz da cultura, que seriam as pessoas cultas, é a raiz do problema que não deixa que a produção cinematográfica cresça. Um cidadão que não ama o seu país, dificilmente amará a sua cultura pois ambos são reflexo constante um do outro. Cultura pressupõe dedicação de um povo à sua arte numa entrega mútua; a cultura já é suficientemente pisada pelo governo e pelas instituições públicas e não precisa de ser tão “re-comentada” pelo público.

Espero o dia em que possa abrir o jornal e ler

“O Cinema Português está bem e recomenda-se".


*Re-comentar (Neologismo de minha autoria) – Acção de comentar em tom depreciativo.

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À amiga Gina: obrigado pelo empurrão. Mesmo assim acabei de escrever o post às 0h52m... mas ainda vou a tempo não vou?
À meia lua: não interessa como chegaste mas o teres chegado! Volta sempre, serás sempre bem-vinda!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

um presente á tua espera no meu cantinho.,..passa por la e pega. beijos

06 dezembro, 2006 19:04  
Blogger Gina A. said...

Querida amiga,
li o teu post com muita atenção e, antes de mais, elogio a destreza da forma como escreves, a tua lógica de raciocínio.

Digo-te também que concordo contigo e tenho muita pena que o nosso cinema seja assim. No fundo, é um reflexo do nosso país e é triste...

Não interessa às horas a que escreves... escreve sempre, linda! Porque eu gosto muito de te ler! :)

Beijo grande

07 dezembro, 2006 10:43  
Anonymous Anónimo said...

oiii, bem este tempinho nao da mesmo com nada!!!estive a ver melhor o teu cantinho e vejo que tambem gostas do house...pois para mim tambem é o motivo das horas!!!! Gosto muito de ver esta serie...aquele homem é uma pedra, mas era bons se tivessemos médicos assim no nosso país!!!
Bem linda, estive a recordar os bons tempos de escola, uma altura em que a tua turma fez um teatro e tu fazias de stora!!bons tempos mesmo....enfimmm....bem quanto ao post já te tinha dito que não vejo cinema português ou mesmo nenhum. Talvez os filmes que mais veja em português sao uns antigos que tenho cá em casa estilo pátio das cantigas...looool...o que já não é nada mau! Penso que o cinema português devia ser mais desenvolvido e comunicado. Beijokinhas e nao te esqueças de lá ir pegar o selinho ta bem???

07 dezembro, 2006 11:01  
Anonymous Anónimo said...

Tssss olha sinceramente concordo contigo... "Recomenta-se". É uma vergonha (ou não) mas de todos esses filmes só vi o crime do padre Amaro, ou melhor nem cheguei a ver todo, porque achei que aquilo tava demasiado exagerado e olha desisti a meio, Lol. Wathever.
Lembro-me dum dos poucos filmes portugueses que até gostei. Facas e Anjos.
Beijokas Mágicas*

07 dezembro, 2006 21:29  

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