segunda-feira, abril 09, 2007

Sobre o Teatro...

“Acho que está vivo” – dizia Eunice Munõz há um ano atrás quando a questionaram na rádio. Da opinião desta senhora do teatro existe muita gente, da opinião contrária existe ainda mais.
Não pretendo debruçar-me sobre dados tão frios como são os números. Teatro é arte, e arte não deveria ser quantificável pelos bilhetes vendidos ou os lugares vazios; e para inventariar o número de espectadores que vai ao teatro, ou para determinar os motivos que levam as pessoas a preferir o sofá de sua casa ou as cadeiras do cinema, já existe gente especializada no assunto e em número suficiente.
Eu também acho que o Teatro está vivo, mais que não seja pelos elementos que o compõem: pelos textos escolhidos que quase sempre permitem estabelecer um contacto com a realidade actual, pelos actores e actrizes da velha guarda que continuam a subir aos palcos, mostrando que o talento da representação é intemporal ou pelos jovens que, impulsionados pelos mais diversos motivos, se iniciam nesta arte de representar e acabam por ficar presos a ela.
Há uns quantos que dizem que o teatro está vivo com toda a certeza e aproveitam para apontar o dedo às companhias, aos encenadores e produtores e dizer que a vida se mantém pois estes querem viver à base dos subsídios do estado. O que estas pessoas não sabem é que os subsídios culturais são quase tão inexistentes como todos os outros subsídios que o estado atribui ou deveria atribuir; e que quando, após criterioso concurso são entregues estas “ajudas” às companhias, encenadores ou produtores, estes ainda têm muito que trabalhar para conseguir os restantes três quartos que faltam para cobrir as despesas orçamentais. Se imaginar o que seria viver apenas do subsídio de refeição que consta no seu recibo de vencimento, certamente compreenderá onde eu quero chegar.

A verdade é única: o teatro nunca estará morto enquanto se inaugurarem novas casas de espectáculo, recordo o Maria Matos reaberto há um ano atrás ou o novo Teatro Municipal de Almada inaugurado em Julho de 2006; nunca poderemos dizer que o teatro está a morrer enquanto existirem profissionais da arte a endividar-se para poder trabalhar. Recordo a Guida Maria que dizia há pouco tempo: “Não posso continuar a trabalhar da minha conta bancária e levar nos cornos porque não tenho”. E o teatro nunca morrerá enquanto existirem casas esgotadas, seja qual for o género da peça, “meias-casas” numa peça experimental, ou sessões canceladas por ausência de público. Parece loucura mas a verdade é que é apenas a desistência dos elementos que o constituem que pode condenar o teatro à pena de morte; e os autores, os actores, os encenadores e produtores são portugueses e o português pode desistir de tudo, menos daquilo que ama. O espectador pode ameaçar que nunca mais voltará ao teatro e cumprir a ameaça. Aqueles que amam esta arte também podem gritar a plenos pulmões ser aquela a última representação ou a última produção mas jamais cumprirão esta promessa; e, enquanto houver gente a acreditar no teatro, haverá sempre um espectador a aplaudir na primeira fila, no meio da sala, no foyer, ou apenas no seu pensamento.

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